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Torre de comunicação

Como mentir com estatística

Atualizado: 2 de jul. de 2021

O conceito de mentir com estatística não é novo. De facto, existem publicações sobre o assunto que tentam explicar de forma acessível técnicas comuns utilizadas pelos meios de comunicação social, em particular, para embelezar ou deturpar a realidade.

Uma chave para encarar este assunto é entender que dá para enganar sem se ter necessariamente que mentir.

Um dos livros mais conhecidos sobre este assunto data de 1954 e foi escrito pelo jornalista e escritor americano Darrell Huff. Este autor ficou conhecido por ter escrito livros sobre vários tópicos, de forma acessível para um público geral.


 

Resumo do conteúdo


O livro How to Lie with Statistics (em português, Como mentir com estatística) tem 10 capítulos, sobre os seguintes temas:

1. Amostras tendenciosas: o que teríamos se, por exemplo, se fizessem as sondagens para eleições presidenciais apenas com pessoas entre os 25 e os 35 anos;

2. Médias que não descrevem apropriadamente a realidade: basta um (ou vários) valores serem muito diferentes dos restantes para deturpar o significado da média;

3. Amostras insuficientes;

4. Flutuações estatísticas: determinadas diferenças não são bem diferenças. É dado o exemplo duma criança com QI 98 e outra com QI 101, e explicado que estas medições têm uma incerteza tal, que a diferença entre 3 pontos de QI não é significativa;

5. Gráficos com escala que não começa em 0;

6. Gráficos pictóricos, ou seja, que em vez de barras têm, por exemplo, mealheiros para representar a evolução da quantidade de dinheiro. O erro é utilizar imagens a 2 dimensões e não atender à relação entre alturas, larguras, e áreas, de modo a exagerar a realidade;

7. e 8. Diferença entre correlação e causalidade, com diversos exemplos;

9. Conceitos usados em estatística e como podem ser usados de forma falaciosa: diferença entre percentagem e pontos percentuais, diferença entre média aritmética e média geométrica, etc.

10. Um resumo do que ter em conta ao lidar com estatísticas, de modo a tentar identificar falácias.


 

Comentários


Sobre os vários assuntos que o livro aborda, penso que o menos relevante hoje em dia é o do capítulo 6, porque gráficos pictóricos não são muito comuns, pelo menos no dia-a-dia das pessoas. De resto, apesar de se terem passado 67 anos desde que foi publicado, ele permanece bastante atual. O advento das tecnologias e a consequente propagação mais rápida e menos controlada de informação continua a usar a maior parte dos truques descritos por alguém na década de 50. Daí a importância da comunicação na ciência: praticamente toda a gente, independentemente de fatores como a idade, o género, a escolaridade e o rendimento tem acesso a muita mais informação do que há várias décadas. Pelo menos teoricamente. No entanto, se continua a ser “rentável” para quem quer enganar utilizar técnicas que são conhecidas como falaciosas, significa que este conhecimento não está de facto a chegar à generalidade das pessoas.


Antes de terminar, deixa-se apenas uma nota. No capítulo 8, o autor discute um exemplo que pretende demonstrar a diferença entre correlação e causalidade. Neste, refere um estudo que indicava uma correlação entre os estudantes universitários fumadores terem notas mais baixas do que os não fumadores. A meu ver, o argumento principal (ou seja, o que pretende demonstrar a diferença entre correlação e causalidade) é válido e relevante; no entanto, convém ter em conta, ao ler este exemplo especificamente, que Huff tentou ao longo da sua vida aliar o seu conhecimento e reputação como autor de livros pedagógicos para defender que o tabagismo não provoca danos à saúde.


Por último, deixo uma citação do livro, que demonstra a abordagem do mesmo e o modo como está escrito.



To tell the truth (which, of course, is what I am planning not to do),I want you to infer something, to come away with an exaggerated impression, but I don't want to be caught at my tricks. There is a way, and it is one that is being used every day to fool you. 

Para dizer a verdade (o que, obviamente, é o que planeio não fazer), quero que infira algo, que fique com uma impressão exagerada, mas não quero ser apanhado nos meus truques. Há uma maneira, e está a ser usada todos os dias para o enganar.

 



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